Subterranean Disposition Interview with Ultraje Zine [June 21, 2016]

Posted by Nick Skog on Wednesday, July 27, 2016 Under: Interviews
Interview with Ultraje Zine
Date: June 21, 2016
Language: Portuguese

English version [Google translate]

O australiano Terry Vainoras demorou quatro anos a confeccionar o segundo álbum “Contagium And The Landscapes Of Failure” ainda que o esqueleto tenha sido construído mesmo antes da estreia com o disco homónimo. De forma detalhada e muito honesta, Terry conta-nos tudo sobre este contágio musical que envolve vários convidados, incluindo o português Daniel Lucas, dos Painted Black.

Quatro anos depois do primeiro álbum, finalmente temos o segundo. Dirias que estiveste a cozinhá-lo durante todo este tempo?
Os anos entre o álbum homónimo e o “Contagium…” foram um caso de cozinha intermitente. As demos foram gravadas antes do lançamento do primeiro álbum em 2012, e revisitava-as periodicamente, ouvia e revia pequenas partes aqui e ali, até que tive a oportunidade de iniciar a gravação em estúdio no final de 2014, o que demorou um ano a finalizar. Pelo meio, casei-me, tive um filho, andei em digressão e gravei um álbum com a minha outra banda, os Order Of Chaos. Portanto, as coisas seguiram muito lentamente, assim como a música. Mas foi a maneira perfeita de o fazer; sentir-me capaz de reflectir cada etapa e criar o melhor álbum possível.

O nome do projecto liga-se muito ao som que exalas – muito subterrâneo, térreo, condenado. Sentes o mesmo?
Concordo totalmente. O álbum homónimo foi maioritariamente composto antes de ter um nome, e um dia surgiu nos meus pensamentos; instantaneamente soube que era assim que tinha de ser chamado. Musicalmente, sinto que há muito de um sentimento cavernoso e claustrofóbico, e vejo a dinâmica da música como mudanças de cenário – portanto enquadra-se bem na minha mente. Liricamente, subterranean pode ser tomado como pensamentos internos de uma pessoa e disposition como um estado de espírito.

“Wooden Kimono Fixative” é a minha faixa favorita no disco. Lida com a obsessão humana perante a morte, certo? Temes o fim dos tempos?
Obrigado, também é um tema que ressoa fortemente em mim. A letra lida com a nossa ganância, com acções insustentáveis enquanto humanos e familiarizar isso com um secreto desejo de morte para continuar a encarar o fim dos tempos que pode acontecer na nossa vida. É resumido da melhor forma com a linha “until the skyscrapers mark our tombstones here”. Não diria que temo o fim dos tempos, mas tenho uma resignação perante isso já que é uma realidade para todos nós.

Costumamos dizer que há um português em cada canto do mundo e isso acontece com Subterranean Disposition, uma vez que temos o Daniel Lucas (Painted Black) numa canção. Como é que se conheceram e qual é o significado da parte do Daniel?
Conheci o Daniel e os Painted Black quando fazia parte dos The Eternal, e toquei em Portugal em 2007 e depois, outra vez, em 2009, onde partilhámos alguns palcos. Boa gente e grande banda! A parte em que o Daniel participa é originalmente um diálogo de um filme espanhol, sendo que o significado geral diz que as coisas não são sempre aquilo que parecem; por vezes, o reflexo de algo sente-se mais vivo do que o objecto que está a ser reflectido. Penso que o rico barítono da voz do Daniel e o diálogo português fez com que a parte atmosférica da canção ficasse muito misteriosa.

Devo dizer que adorei a inclusão do saxofone. Sentiste que isso iria funcionar instantaneamente ou fizeste algumas experiências até teres a incorporação certa?
Na verdade, o meu amigo Darcy Molan tocou saxofone na canção “The Most Subtle Of Storms” que está no álbum debutante e isso recebeu críticas positivas, então quis saborosamente adicionar algo mais disso no segundo álbum. Tornar-se um pai caseiro entre os álbuns fez com que aprendesse a tocar saxofone tenor, portanto o que ouves é a minha primeira gravação com o instrumento!

Quanto à capa e ao título do álbum, dirias que a personagem está a aterrar nas paisagens do falhanço com todas as flamas infernais à sua frente ou está a fugir de um falhanço e disposto a afundar-se nas chamas?
É uma questão muito boa, e penso que deveria ficar aberto à interpretação individual, mas, pessoalmente, diria que a personagem chegou ao fim da estrada nas paisagens do falhanço que o próprio ajudou a criar, e as chamas representam o apocalipse.

És o cerne do projecto, mas tiveste alguns convidados que te ajudaram com vozes e outros instrumentos. Quão bom é ter pessoas talentosas à tua volta?
O álbum não poderia simplesmente ser o que é sem a contribuição de músicos maravilhosos – Dan na bateria; Gelareh com instrumentos persas e vozes assombrosas; a voz e as ideias do Daniel; a gravação, mistura e masterização do Adam Calaitzis. O que deram às minhas músicas traz mais dimensão e profundidade do que aquilo que podia imaginar, e sinto-me honrado por terem tirado tempo para o fazerem.

Como foi trabalhar com o Coby O’Brien para desenvolver a capa? Outro cheio de talento, não?
Coby é um artista fenomenal. Primeiramente reparei nele quando fez um trabalho para uma compilação da Hypnotic Dirge Records. Quando vi mais sobre o seu trabalho na Internet, cruzei-me com a capa do [meu] álbum e senti instantaneamente que era o corpo visual da música que tinha escrito para este novo álbum. Por sorte, ele foi generoso o suficiente em deixar-me usar a sua arte para representar a minha música.

Não te pergunto como artista, mas enquanto ouvinte: quando e onde aconselhas alguém a ouvir Subterranean Disposition?
Como ouvinte, acredito que é preciso paciência para explorar música que não se revela logo directamente. É música lenta, mas dinâmica que precisa de foco único e leva o seu tempo. Luzes apagadas, auscultadores postos. Quanto mais investes nisso, mais recompensado és.

Preferes rotular Subterranean Disposition como progressivo ou experimental?
Enquanto artista, não me quero preocupar com termos, nem pintar-me a mim mesmo no canto de um suposto rótulo. É mais um diálogo com a música que sai, vê-la através de todas as ideias que surgem e fazer dela o que precisa de ser. Assim, é aceitável se alguém disser que é progressivo ou experimental. As bases são death metal e doom metal e tudo aquilo que surgir para ajudar as canções a viajar a sua jornada. Portanto, acho que podem ser estados de espírito progressivos e experimentais ao mesmo tempo. Uma vontade de evoluir e experimentar.

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